São Teófilo de Antioquia

Trecho traduzido de The Early Christian Writers de George Florovsky.


Eusébio, em sua Εκκλησιαστική Ιστορία (4, 20), informa-nos que Teófilo foi o sexto bispo de Antioquia, depois de Pedro, Evódio, Inácio, Herodião, Cornélio e Eros. [..] Pelos escritos de Teófilo, nota-se que nasceu de pais pagãos perto do Eufrates e recebeu educação tipicamente helênica. Apenas mais tarde estudou as Escrituras da Igreja seriamente e então converteu-se. Tudo que sabemos sobre datas é que floresceu por volta de 180.

Ele escreveu obras contra Marcião e Hermogenes, leituras catequéticas, comentários sobre Provérbios e os Evangelhos, uma obra histórica da qual sabemos apenas por suas próprias referências a ela - περι ιστορίων, e uma harmonia dos Evangelhos. Mas o único trabalho seu que chegou a nós é Ad Autolycum [Para Autólico], em três livros.

Para Autólico é uma importante obra da literatura cristã primitiva. Ele foi o primeiro escritor - de quem temos documentos hoje - a ser explícito em algumas áreas importantes acerca do Cristianismo. [...] Foi o primeiro a usar a palavra τρίας - Trindade - para a união das três pessoas divinas: "os três dias anteriores aos luminares [em Gênesis] são tipos da Trindade - τριάδος - de Deus, sua Palavra e Sua Sabedoria" (2, 15). Aqui, Teófilo usa a palavra Sabedoria - σοφία - para referir-se ao Espírito Santo. Mas em outras passagens refere σοφία ao Filho (2, 10). Teófilo é também o primeiro a distinguir entre o Logos ένδιάθετος e o Logos προφορικός - o Logos interno ou imanente em Deus e o Logos falado ou emitido por Deus, uma distinção em terminologia, que será importante papel na explicação de outras reflexões trinitárias.

O conhecimento de Deus foi revelado no passado pelos profetas e cumprido e contido no Evangelho - και γαρ εγώ ήπίστουν τούτο εσεσθαι, αλλά νυν κατανόησας αυτά πιστεύω, άμα και επιτυχών ιεραις γραφαις των αγίων προφητών, οι και προειπον δια πνεύματος θεού τα προγεγονότα ώ τρόπω γέγονεν και τα ενεστώτα τίνι τρόπω γίνεται, και τα επερχόμενα ποία τάξει άπαρτισθήσεται. άπόδειξιν ούν λαβών των γινομένων και προαναπεφωνημένων ουκ απιστώ (Ι, 14). Mas a Revelação é necessária precisamente porque a sabedoria dos filósofos e poetas é sabedoria inspirada por forças demoníacas (II, 8).

Deus é "inefável", "indescritível", "incapaz de ser visto pelos olhos da carne", "incompreensível", "insondável", "inconcebível", "além do ser", "não gerado", "imutável" e "eterno" (I, 3). "Pois se digo que Ele é Luz, nomeio apenas sua própria obra. Se o chamo Logos, falo de sua soberania. Se o chamo Mente, nada digo além de sua sabedoria. Se o chamo Poder, falo de sua atividade. Se o chamo Providência, falo de sua bondade. Se o chamo Reino, menciono apenas sua glória. Se o chamo Senhor, falo Dele como Juiz. Se o chamo Juiz, falo Dele como justo. Se o chamo Pai, falo de todas as coisas vindo Dele" (I, 3).

Deus é Criador, não um "Moldador" da matéria primeva. "Platão e aqueles de sua escola reconhecem, de fato, que Deus é incriado, que Pai e Criador de todas as coisas. Mas então dizem que a matéria é incriada como Deus e alegam que é coexistente com Deus. Mas se Deus é incriado e a matéria incriada, Deus não é mais, de acordo com os platonistas, o Criador de todas as coisas, nem, de acordo com suas opiniões, a monarquia de Deus é estabelecida... Se a matéria também fosse incriada, também seria inalterável e igual a Deus, pois o que é criado é mutável e alterável, mas o que é incriado é imutável e inalterável. E que grande coisa se Deus tivesse feito o mundo de materiais já existentes? Pois mesmo um artista humano, quando recebe os materiais de alguém, faz o que agrada-lhe. Mas o poder de Deus é manifestado nisto, que Ele faz o que quer a partir do nada... de coisas que não existem Ele cria e tem criado o que existe" (II, 4).

Deus, então, "tendo seu próprio Logos interno - ένδιάθετον - o gerou, emitindo-o - προφορικός - juntamente com sua própria Sabedoria antes de todas as coisas" (II, 10). "Quando Deus quis fazer tudo o que havia deliberado, gerou esse Logos proferido - προφορικοί -, como Primogênito de toda criação, não esvaziando-se de seu Logos, mas gerando o Logos e conservando-o sempre com ele" (II, 22).

Deve-se lembrar que Teófilo está abordando apenas as questões levantadas por Autólico - a invisibilidade do Deus cristão, a fé na ressurreição, o nome de cristãos e a questão da alegada inferioridade da Escritura cristã frente à filosofia e literatura gregas. A própria natureza de sua obra dispensa uma apresentação completa da fé cristã. [...] Não devemos esquecer também que Teófilo era um bispo e escreveu outras obras, as quais lidavam com o depósito original que foi transmitido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário