Deus como Homem (Kallistos Ware)

 


O que segue abaixo é um resumo do capítulo "Deus como Homem", parte do livro O Caminho Ortodoxo.


A Encarnação: Deus se Torna Humano

1. Qual é o significado de Jesus como "nosso Companheiro no Caminho"? Jesus é apresentado como o companheiro que caminha ao nosso lado, especialmente quando estamos no limite de nossas forças. Ele é aquele que está conosco no "deserto de gelo ou na fornalha de fogo". Para cada pessoa, em seu momento de maior solidão ou provação, a promessa é que ela não está sozinha, pois tem um companheiro. Este companheiro é o Senhor Jesus, que se encarnou da Virgem, sendo ao mesmo tempo um da Trindade e um de nós, nosso Deus e nosso irmão.

2. Como a Encarnação resolve o problema da separação entre Deus e a humanidade? O pecado, tanto o original quanto o pessoal, criou um abismo entre Deus e o homem que o homem, por seus próprios esforços, não consegue transpor. A solução divina foi que, uma vez que o homem não podia ir a Deus, Deus veio ao homem. O Logos eterno e Filho de Deus tornou-se um homem verdadeiro, um de nós. Ele curou e restaurou nossa humanidade ao assumi-la inteiramente para si. Como diz um hino de Natal ortodoxo, "Hoje Deus desceu à terra, e o homem subiu aos céus".

3. O que a "Oração de Jesus" nos ensina sobre a pessoa de Cristo? A Oração de Jesus ("Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador") contém dois "polos" ou pontos extremos. Ela começa falando da glória de Deus, aclamando Jesus como "Senhor" e "Filho de Deus", e termina voltando-se para nossa condição de pecadores. A reconciliação entre esses extremos é encontrada em três palavras:

  • Jesus: O nome humano que significa "Salvador".

  • Cristo: O título grego para "Messias", o Ungido pelo Espírito Santo.

  • Misericórdia: Um termo que significa amor em ação, operando para trazer perdão, libertação e cura. Assim, a oração é uma afirmação de fé em Jesus Cristo como verdadeiramente divino e plenamente humano, o Theanthropos ou "Deus-homem".

4. A Encarnação aconteceu apenas por causa da Queda do homem? Embora a Encarnação seja a resposta de Deus à nossa condição caída, o livro sugere que ela é, mais fundamentalmente, um ato do amor ilimitado de Deus. Mesmo que o homem nunca tivesse pecado, Deus, em Seu amor "extático", ainda teria escolhido se identificar com Sua criação tornando-se homem. Portanto, a Encarnação eleva o homem a um novo patamar; o estado final é mais elevado que o primeiro.

5. Como a fé ortodoxa descreve a pessoa de Jesus Cristo? Jesus Cristo é uma única pessoa, indivisível, que é ao mesmo tempo Deus e homem. O IV Concílio (Calcedônia, 451) proclamou que Ele existe "em duas naturezas", uma divina e outra humana. Segundo sua natureza divina, Ele é "uno em essência" (homoousios) com Deus Pai. Segundo sua natureza humana, Ele é homoousios conosco, os homens, possuindo não apenas um corpo humano, mas também uma alma e um intelecto humanos. Ele não é 50% Deus e 50% homem, mas 100% Deus e 100% homem.

Salvação como Partilha e Cura

6. O que significa dizer que Jesus é "completo no que é seu e completo no que é nosso"? Esta frase de São Leão Magno resume a fé na dupla natureza de Cristo. "Completo no que é seu" significa que Ele é totalmente Deus, possuindo a plenitude de sua glória eterna. "Completo no que é nosso" significa que Ele é totalmente homem, o segundo Adão, que nos mostra o verdadeiro caráter de nossa própria personalidade humana. Assim, Ele é a resposta para duas perguntas fundamentais: "Quem é Deus?" e "Quem sou eu?".

7. Qual é o princípio central da salvação, de acordo com este capítulo? O princípio central é a partilha, a solidariedade e a identificação. A mensagem de salvação pode ser resumida em termos de partilha. Cristo partilha plenamente do que somos (nossa pobreza, sofrimento e morte) para que possamos partilhar do que Ele é (sua vida divina e glória). Ele se tornou o que somos para nos tornar o que Ele é.

8. O que a frase "O não assumido não é curado" significa em relação a Cristo? Esta afirmação de São Gregório, o Teólogo, é um princípio fundamental da salvação. Significa que Cristo nos salva tornando-se o que somos; Ele cura nossa humanidade fragmentada ao assumi-la como sua. Para que nossa salvação seja total, a partilha de Cristo em nossa humanidade deve ser completa. Se Ele não tivesse assumido algum aspecto de nossa natureza (como uma mente ou vontade humana), esse aspecto não teria sido curado ou redimido.

9. Cristo assumiu a natureza humana antes ou depois da Queda? Ele assumiu a natureza humana caída, não a natureza humana incorrupta de Adão no Paraíso. Ele viveu sua vida na terra sob as condições da Queda. Embora Ele mesmo não fosse uma pessoa pecadora, em sua solidariedade com a humanidade caída, Ele aceitou plenamente as consequências do pecado de Adão. Isso inclui não apenas consequências físicas como cansaço e dor, mas também as morais, como solidão, alienação e conflito interior.

10. Qual é o propósito do Nascimento Virginal de Cristo? O Nascimento Virginal serve como um "sinal" da singularidade de Cristo de três maneiras interligadas:

  • Sinal de sua Origem Divina: O fato de não ter pai terreno aponta para sua origem celestial e eterna, enfatizando que Ele é transcendente e Deus perfeito.

  • Sinal da Iniciativa Divina: Indica que seu nascimento foi, de maneira especial, a obra direta de Deus, não o resultado de uma união sexual humana.

  • Sinal de sua Pré-existência: Como a pessoa de Cristo encarnado é a mesma pessoa preexistente do Filho de Deus, nenhuma nova pessoa veio a existir em seu nascimento, o que o diferencia do nascimento humano comum.

A Cruz: O Custo do Amor

11. Por que a Encarnação por si só não foi suficiente, exigindo também a morte na Cruz? Em um mundo caído e pecaminoso, o amor de Deus precisava ir ainda mais longe. A presença do pecado e do mal tornou a obra de restauração infinitamente custosa, exigindo um ato sacrificial de cura que somente um Deus sofredor e crucificado poderia oferecer. A Cruz significa, da maneira mais crua, que o ato de partilha de Deus foi levado ao seu limite máximo. Cristo compartilha não apenas da plenitude da vida humana, mas também da plenitude da morte humana.

12. Qual foi o sofrimento mais profundo de Cristo na Paixão? Seu sofrimento mais profundo foi espiritual, não físico. Os Evangelhos oferecem vislumbres desse sofrimento interior, como na agonia no Getsêmani, quando Ele é dominado pelo horror e angústia, e seu suor se torna "como grandes gotas de sangue". Nesse momento, Ele se identifica com todo o desespero e dor mental da humanidade, o que é muito mais importante para nossa salvação do que sua participação em nossa dor física.

13. Qual é o significado do clamor de Cristo: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Este clamor representa o ponto extremo da desolação de Cristo, quando Ele se sente abandonado não apenas pelos homens, mas por Deus. Cada palavra da Cruz deve ser levada a sério, e este grito significa que, naquele momento, Jesus estava verdadeiramente experimentando a morte espiritual da separação de Deus. Por nosso amor, Ele aceita até mesmo a perda de Deus.

14. O que significa dizer que Cristo "desceu ao inferno"? Isso tem um sentido mais profundo do que apenas pregar aos espíritos dos mortos. O inferno é o lugar onde Deus não está. Se Cristo verdadeiramente "desceu ao inferno", isso significa que Ele desceu às profundezas da ausência de Deus. Ele se identificou de forma total e incondicional com toda a angústia e alienação do homem, assumindo-a para curá-la.

15. A morte de Cristo na Cruz foi uma derrota ou uma vitória? Foi uma vitória suprema e inequívoca. A morte na Cruz não é um fracasso que foi corrigido posteriormente pela Ressurreição; ela é, em si mesma, uma vitória. Seu brado final, "Está consumado" (tetelestai), não é um grito de resignação, mas um grito de vitória: a obra está completa, cumprida e realizada.

A Ressurreição: A Alegria da Vitória

16. A vitória da Cruz é uma vitória de quê, exatamente? É a vitória do amor sofredor. O amor se mostra "forte como a morte", e a Cruz revela um amor que é ainda mais forte. É a vitória do amor sobre o ódio. O amor de Cristo foi testado ao extremo, mas não foi subjugado. Sua "humildade amorosa é uma força terrível", a mais forte de todas as coisas.

17. Cristo sofreu "em nosso lugar" ou "em nosso favor"? O livro enfatiza que Ele sofreu "em nosso favor" (on our behalf), não "em nosso lugar" (instead of us). O Filho de Deus sofreu até a morte não para que fôssemos isentos do sofrimento, mas para que nosso sofrimento pudesse ser como o Dele. Ele nos oferece não um desvio do sofrimento, mas um caminho através dele; não substituição, mas uma companhia salvadora.

18. Qual é a relação entre a Crucificação e a Ressurreição? A Ressurreição é a manifestação da vitória que já havia sido conquistada na Cruz. Na Sexta-feira Santa, a vitória está oculta, enquanto na manhã de Páscoa ela se torna manifesta. A Ressurreição confirma a vitória da Cruz, mostrando abertamente que o amor é mais forte que o ódio, e a vida é mais forte que a morte.

19. A Ressurreição foi um evento espiritual ou físico? A fé ortodoxa acredita em uma ressurreição genuína dos mortos, no sentido de que o corpo humano de Cristo foi reunido à sua alma humana, e o túmulo foi encontrado vazio. Não é suficiente explicar a Ressurreição dizendo que o "espírito" de Cristo de alguma forma sobreviveu entre seus discípulos. Como afirma São Paulo, "Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é vã, e a vossa fé também é vã".

20. Qual é a emoção fundamental que a Ressurreição traz ao cristianismo? A alegria. Desde o seu início, o cristianismo tem sido a proclamação da alegria, a única alegria possível na terra. Sem essa proclamação, o cristianismo é incompreensível. O Evangelho começa com "eis que vos trago novas de grande alegria" e termina com os discípulos retornando a Jerusalém "com grande alegria".

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