Três escatologias


O cristianismo sempre rejeitou o dualismo ontológico dos maniqueístas, bem como a ideia - comum no gnosticismo do século segundo - de que a criação visível é obra de um demiurgo inferior, distinto do Deus transcendente; pelo contrário, afirma a bondade intrínseca da criação, "visível e invisível". Com igual consistência, entretanto, o Novo Testamento mantém um dualismo existencial entre "este mundo", que está em estado de rebelião contra Deus, e o "mundo que virá", quando Deus será "tudo em todos". Cristãos esperam pela "cidade que virá" e consideram-se apenas "peregrinos", em vez de cidadãos plenos, no mundo presente. Porém, essa escatologia do Novo Testamento e suas implicações práticas tem sido vividas e entendidas diferentemente por cristãos em diferentes momentos da história.

1) A ideia de que o "Reino" virá repentinamente, através de um fiat divino unilateral, em um futuro não-tão-distante, era comum nas primeiras comunidades cristãs. Essa concepção escatológica, de fato, significava que os cristãos constantemente orariam "para que a figura deste mundo passe". Eles não estariam de modo algum ocupados com o melhoramento da sociedade, simplesmente porque a sociedade terrena estaria destinada a um desaparecimento catastrófico e precoce. Eles considerariam inevitável a condenação última da vasta maioria da humanidade e a salvação de apenas um pequeno grupo. Nessa perspectiva, mesmo a menor célula da sociedade terrena, a família, seria um peso; e o casamento, embora permitido, não seria recomendável. A oração escatológica "Vem, Senhor Jesus!" seria entendida primariamente como o grito do "remanescente", totalmente desamparado em um mundo hostil e buscando salvação dele, não uma responsabilidade para com ele.

Tal escatologia não fornece qualquer base para missões cristãs na sociedade ou na cultura. Ela atribui a Deus somente, agindo sem cooperação humana, a tarefa de trazer a Nova Jerusalém, que descerá pronta do céu. Ela também esquece aquelas imagens do Reino no Novo Testamento que precisamente implicam cooperação ou "sinergia": a semente de mostarda, que cresce até tornar-se uma grande árvore, a levedura que fermenta toda a massa, os campos prontos para a colheita. Uma escatologia de fuga é, evidentemente, psicologicamente compreensível e até espiritualmente justificada nos tempos em que a comunidade cristã é forçada a retornar a si mesma por pressão externa e perseguição, como nos primeiros séculos e em tempos mais recentes também; mas transformada em um sistema, claramente trai a mensagem bíblica como um todo. A "Nova Jerusalém" não é apenas um dom gratuito de Deus vindo do céu, mas também o selo e o cumprimento de todos os esforços e aspirações legítimas da humanidade, transfigurados e transformados numa nova criação.

2) A ênfase sobre a realização humana leva ao extremo oposto: a escatologia pelagianizadora e otimista baseada na crença em um progresso constante da sociedade humana. Ao manter com força que a história humana possui um sentido e um alvo, essa crença no progresso - em suas formas capitalista ou marxista - é um fenômeno pós-cristão. É ainda tecnicamente uma "escatologia" e inspirou muito das modernas culturas europeias e americanas durante os últimos três séculos. Na década passada muitos cristãos adotaram mais ou menos essa escatologia. Eles identificam o progresso social com a "nova criação", aceitando a "história" como um guia em direção à "Nova Jerusalém", e definindo a missão cristã principal em categorias "seculares".

Essa segunda escatologia, seja ou não chamada de cristã, não toma em consideração o pecado e a morte, dos quais a humanidade não pode redimir-se por suas próprias forças; e assim ignora os aspectos mais reais e trágicos da existência humana. Parece aspirar por uma civilização sem fim, porém sempre aprisionada pela morte, que de fato seria "tão terrível quanto a imortalidade para um homem que é prisioneiro da doença e da velhice" (G. P. Fedotov). Ao aceitar o determinismo histórico, ela renuncia ao próprio centro da mensagem cristã: libertação dos "poderes e principados" da história através da ressurreição de Cristo e pela promessa profética de uma transfiguração cósmica trazida por Deus, e não pelo homem.

3) O conceito bíblico de "profecia" leva-nos a uma terceira forma de escatologia que faz justiça tanto ao poder de Deus quanto à liberdade e responsabilidade do homem. Profecia, no Velho e no Novo Testamentos, não é apenas uma simples predição do futuro, nem uma declaração de inevitabilidade. É "uma promessa ou uma ameaça" (G. P. Fedotov). Em outras palavras, como o filósofo russo Fedotov corretamente apontou, é sempre condicional. As "coisas boas" do futuro são uma promessa aos fiéis, enquanto os cataclismas são uma ameaça aos pecadores. Ambos, porém, estão ultimamente condicionados pela liberdade humana. Deus deixaria de destruir Sodoma por causa de dez fiéis, e quando Nínive arrependeu-se, Ele a perdoou, poupando-a da destruição prometida por Jonas.

Pois Deus não está ligado a qualquer necessidade natural ou histórica. O próprio homem, em sua liberdade, deve decidir se a vinda de Cristo será um julgamento aterrorizante ou uma alegre festa de casamento. Nenhuma escatologia será fiel à mensagem cristã a menos que mantenha tanto o poder de Deus sobre a história quanto a tarefa do homem, na qual reside a liberdade real que foi-lhe restaurada por Jesus Cristo, para a edificação do Reino de Deus.

Estas são considerações iniciais que nos darão um ponto de referência ao ver e avaliar os fatos do passado.

- Padre John Meyendorff, Roma, Constantinopla e Moscou

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