Ícones: perguntas e respostas

 Adaptado de The Icon FAQ do Pe. John Whiteford.



1. O que é um ícone?

Um ícone é uma imagem (usualmente bidimensional) de Cristo, dos santos, anjos, eventos bíblicos importantes, parábolas, ou eventos na história da Igreja.

São Gregório (Papa de Roma, 590-604) falou dos ícones como Escritura para os iletrados:
Aquilo que a escrita apresenta aos leitores, isto também a pintura apresenta ao iletrado que contempla, uma vez que nela mesmo os ignorantes podem ver aquilo que devem seguir; nela os iletrados leem (Epístola aos Bispo Sereno de Marselha).
Àqueles que sugerem que isso não é mais relevante em nossa época, digo que devem considerar o quanto ainda há analfabetismo funcional em nosso tempo, e o fato de que mesmo nas sociedades mais letradas existe um segmento iletrado... suas crianças pequenas.

Além disso, os ícones também elevam nossas mentes das coisas terrenas para as celestiais. São João de Damasco escreveu: "somos levados pelos ícones perceptíveis à contemplação do divino e espiritual". Mantendo a memória dos santos por meio dos ícones, somos também inspirados a imitar a santidade daqueles ali representados. São Gregório de Nissa (330-395) escreveu sobre como não podia passar "sem lágrimas" por um ícone de Abraão oferecendo Isaque. Comentando sobre essa passagem, foi notado no Sétimo Concílio Ecumênico: "Se a um tal Doutor a figura foi um auxílio e levou às lágrimas, quanto mais não será no caso dos ignorantes e simples para levar à contrição e ser benéfica".

2. Cristãos oram para os ícones?

Cristãos oram em presença dos ícones (assim como os israelitas oravam em presença dos ícones no Templo), mas não oramos para os ícones.

3. Ícones realizam milagres?

Para colocar a pergunta no contexto, consideremos algumas questões: a Arca da Aliança fazia milagres (cf. Josué 3:15, 1 Samuel 4-6, 2 Samuel 11-12)? a Serpente de Bronze curava aqueles atacados por serpentes (Números 21:9)? os ossos do profeta Eliseu ressuscitaram um homem (2 Reis 13:21)? a sombra de São Pedro curou os doentes (Atos 5:15)? os lenços e aventais que tocaram o corpo de São Paulo curavam os doentes e expulsavam demônios (Atos 19:12)?

A resposta, em todos os casos, é sim, em certo sentido. Entretanto, para ser preciso, foi Deus quem escolheu realizar milagres através dessas coisas. No caso da Arca e da Serpente de Bronze, temos imagens sendo usadas para realizar milagres. Deus realizou um milagre por meio das relíquias de Eliseu, pelas sombras de um santo, e pelas coisas que tinham meramente tocado um santo. Por quê? Porque Deus honra aqueles que o honram (1 Samuel 2:30), e assim agrada-se de operar milagres por meio de seus santos, mesmo por esses canais indiretos. O fato de Deus ter santificado coisas materiais não deveria surpreender aqueles familiarizados com a Escritura. Rejeitar essa verdade é cair no gnosticismo.

Portanto, sim, em certo sentido, ícones podem fazer milagres - mas, para sermos precisos, é sempre Deus quem opera milagres por meio dos ícones, pois ele honra aqueles que o honraram.

4. Cristãos adoram os ícones? Qual a diferença real entre adorar e venerar?


Cristãos não adoram os ícones, isto é, não dão às imagens a honra própria de Deus somente. Mas os cristãos veneram ou honram os ícones, o que significa dizer que tratam-nos com respeito porque são objetos sagrados, e porque reverenciamos aquilo que os ícones representam. Não adoramos os ícones mais do que os brasileiros adoram a Bandeira Nacional. Saudar a Bandeira Nacional (como fazem os militares) não é exatamente o mesmo tipo de veneração que tributamos aos ícones, mas é um tipo de veneração. Assim como não veneramos madeira e tinta, mas as pessoas representadas nos ícones, também os patriotas não veneram o tecido e tinta, mas sim o País representado na bandeira.

A diferença entre adoração e veneração (ou honra, reverência) aparece também na Sagrada Escritura. Um judeu piedoso beija a mezuzá em sua porta, bem como a Torá antes de lê-la. Sem dúvida, Cristo também procedeu assim, quando leu as Escrituras nas sinagogas.

Até mesmo o ato de prostrar-se perante algo ou alguém não significa, necessariamente, adoração devida somente a Deus. Vemos nas Escrituras várias ocasiões em que o ato de prostração referia-se a uma reverência lícita perante uma figura santa (um profeta, por exemplo), ou a símbolos civis ou religiosos:
Perante reis: 
Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, e desceu do jumento, e prostrou-se sobre o seu rosto diante de Davi, e se inclinou à terra. E lançou-se a seus pés. 1 Samuel 25:23-24 
E o fizeram saber ao rei, dizendo: Eis aí está o profeta Natã. E entrou à presença do rei, e prostrou-se diante dele com o rosto em terra. 1 Reis 1:23 
Perante profetas ou homens santos: 
Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra. 2 Reis 2:15 
E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas. E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? Atos 16:29-30 
Perante objetos sagrados: 
Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças. Josué 7:6
Perante Deus e o rei: 
Então disse Davi a toda a congregação: Agora louvai ao Senhor vosso Deus. Então toda a congregação louvou ao Senhor Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o Senhor, e o rei. 1 Crônicas 29:20
Neste último exemplo, um mesmo ato (prostrar-se) tem dois significados simultaneamente: os hebreus prostraram-se perante Deus para adorá-lo, e perante o rei para reverenciá-lo. Quando a Bíblia relata a prostração perante um ser humano como idolatria, sempre acrescenta a expressão: "para adorá-lo" (cf. Atos 10:25; Apocalipse 22:8).

Se nem mesmo o ato de prostrar implica idolatria, com ainda mais razão o simples ato de beijar um ícone não poderá ser considerado adoração do mesmo. Trata-se de um ato de reverência por aqueles ali representados.

5. O Segundo Mandamento não proíbe o uso de ícones?

No Segundo Mandamento, Deus diz:
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás. Êxodo 20:4-5
O termo "imagem de escultura" significa, não imagens em geral, mas aquelas usadas para um culto falso ou com representações de falsos deuses. Do contrário, as imagens usadas no próprio culto do Antigo Testamento seriam uma violação desse mandamento. Por isso, na tradução grega (Septuaginta), o termo hebraico pesel foi traduzido simplesmente como eidoloi, isto é, ídolo.

Com efeito, encontramos muitos ícones na Escritura:
Na Arca da Aliança: Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Êxodo 25:18 
Nas cortinas do Tabernáculo: E o tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, e azul, púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada. Êxodo 26:1 
No véu do santuário: Depois farás um véu de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido; com querubins de obra prima se fará. Êxodo 26:31 
Nas paredes do Templo: E todas as paredes da casa, em redor, lavrou de esculturas e entalhes de querubins, e de palmas, e de flores abertas, por dentro e por fora. 1 Reis 6:29 
Nas portas: Também as duas portas eram de madeira de oliveira; e lavrou nelas entalhes de querubins, e de palmas, e de flores abertas, os quais revestiu de ouro; também estendeu ouro sobre os querubins e sobre as palmas. 1 Reis 6:32
Ou seja, havia ícones em todo canto. Eles eram diretamente ordenados ou autorizados por Deus.

Ícones em catacumba romana. Século III.

Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria.

Iconóstase.

Ícone de N. S. Jesus Cristo.

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