Estamos buscando o Cristo? Sermão de S. João de Kronstadt


São João de Kronstadt

O santo Apóstolo de Cristo, André, o "primeiro a ser chamado", era originalmente discípulo de S. João Batista, que preparava o povo para receber o Messias. Quando o Messias veio do deserto, o Precursor disse ao povo: "Eis o Cordeiro de Deus" (João 1:36). Imediatamente André o seguiu. Voltando-se e vendo-o com os outros discípulos de João, o Senhor perguntou-lhes: Quem vocês buscam? Eles responderam: Mestre, onde mora? Ele disse a eles: Venham e vejam. Os discípulos viram onde Ele morava e passaram o dia lá com Ele. Pouco depois o Senhor chamou André e seu irmão Pedro para serem seus discípulos e disse-lhes que se tornariam pescadores de homens para a salvação de muitos. Desde aquele tempo, eles permaneceram com Cristo, eram fiéis a Ele e deram suas vidas por amor a Ele.

Queridos irmãos e irmãs, neste dia pergunto a vocês: O que estão buscando? Por que vieram à igreja hoje? O que estamos todos buscamos em nossas vidas? Estamos buscando Cristo, como Ele foi buscado primeiramente por simples pescadores, entre os quais estava o Apóstolo André?

O que as pessoas buscam na vida: saúde, riquezas, sucesso, conhecidos, amigos, prestígio, vários prazeres mundanos, conhecimento inútil... Poucos buscam Cristo Salvador. Alguns podem achar até estranho buscar o Cristo. Eles dizem: já somos cristãos por causa de Cristo, já temos Sua santa imagem em nossas casas e na igreja, pronunciamos Seu doce nome e o ouvimos no templo. Parece que não temos necessidade de continuar buscando o Cristo. As pessoas buscam aquilo que não possuem. Mas nós aparentemente já temos Jesus Cristo.

É verdade, temos ícones de Cristo, mas não temos o próprio Cristo; temos Seu nome, mas apenas em nossos lábios - não em nossos corações; nós O conhecemos, mas apenas em palavra - não em obras. Aqui, queridos, há uma grande diferença. É a mesma diferença que existe entre uma sombra e o objeto que faz a sombra. É precisamente no coração que Cristo é verdadeiramente conhecido; isto é, no homem interior - em nossa alma; pois Cristo, como Deus, é espírito, "que está presente em todo lugar e tudo preenche".

O reino de Deus está dentro de vós (Lucas 17:21), diz o Senhor. O santo Apóstolo Paulo fervorosamente desejava que Cristo viesse a habitar nos corações dos cristãos por meio da fé. Ele escreveu:
Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor. Efésios 3:16-17
Temos que admitir que muitos de nós não possuem Cristo em nossos corações. Ao invés, nossos corações estão ocupados com aquilo que é oposto a Cristo nosso Deus e Salvador, aquilo que é oposto ao nosso próprio bem, que impede a salvação de nossas almas. Por isso não levamos uma vida cristã genuína.

O que ocupa nossos corações? Deus somente, que prova os corações e os rins (Salmos 7:9), vê o que está em nossos corações, nossos apegos. Se o Senhor nos permitisse ver as profundezas de nossos corações, reagiríamos com horror diante de tanta sujeita acumulada. Que cada um olhe para seu coração e diga, tendo a consciência por testemunha, aquilo que mais o ocupa. Paixões, pecados voluntários e involuntários - não são essas coisas as habitantes constantes de nosso coração?

Mas onde mora o Cristo? Nos corações puros, corações contritos e humildes, onde Ele não é entristecido por dúvidas ou incredulidade, por indiferença por nosso Deus e Salvador; lá onde os homens não preferem a doçura temporária do pecado; onde os ídolos das paixões foram expulsos; onde o materialismo cru não é preferido ao reino de Deus; onde os cristãos frequentemente voltam seus pensamentos para o celestial, como criados para a eternidade; onde buscam a verdade de Deus; onde estão atentos a Seus mandamentos todo dia e toda hora. É aqui que Cristo habita. E o que Ele faz aí? Se apenas soubéssemos (alguns, é claro, sabem) o que Cristo faz nas almas daqueles dignos de Sua permanente presença - que descanso, que conforto e alegria Ele confere, que bênção paradisíaca Ele permite ser experimentada ainda nesta terra...

Tendo uma vez abraçado o Cristo, o santo Apóstolo André tornou-se inteiramente comprometido com Ele, e não importa quais dificuldades, tristezas, acontecimentos ruins ou perseguições - inevitáveis ao pregar o Evangelho - aparecessem, ele permaneceu fiel a Cristo, enfrentando tudo por amor a Ele, mesmo a crucificação.

Santo Apóstolo André

É da máxima importância que busquemos o Cristo - e O encontremos. Sem Ele, quem nós salvará de nossos pecados que amarram-nos todo dia e hora, e do tormento eterno? Apenas o Filho de Deus tem poder na terra para perdoar pecados; Ele somente possui as chaves do inferno e da morte, as chaves para o reino dos céus e a vida.

Encontrar Cristo não é difícil. Ele está em todo lugar, preenchendo o mundo com Sua presença. Deus diz-nos por Seu profeta Jeremias:
Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor. Jeremias 23:23-24
Tão logo Ele vê nossos corações inclinados a receber Sua graça, Ele imediatamente entra, trazendo Sua paz e conforto. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo (Apocalipse 3:20), diz o Senhor. O próprio Cristo busca você: se inclinar seu coração a Ele, certamente O encontrará.

Mas como saberemos que encontramos o Cristo e estamos próximos Dele? Aqueles próximos de Cristo frequentemente voltam-se para Ele em oração com fé e amor; frequentemente pronunciam Seu nome de coração; O invocam por ajuda; frequentemente leem ou ouvem Sua palavra com simplicidade e amor; eles buscam frequentemente união com Ele em Seus mistérios vivificantes; estão satisfeitos com o que possuem e aceitam o que acontece com eles; eles lutam, de acordo com suas forças, para cumprir os mandamentos de Cristo... Acontece que eles também experimentam provações que são permitidas por seu amoroso Mestre - para que seus corações sejam limpos de toda impureza pecaminosa. Aqueles que desejam estar com Cristo não devem fugir das provações, mas mesmo em tempos de alegria não devem esquecer que carregam suas cruzes.

Meus queridos irmãos e irmãs! Busquem Jesus Cristo com fé e amor. Não esqueçam que Ele deu Sua vida na Cruz por nossa causa, para livrar-nos do pecado e do tormento eterno, e para habitar em nossos corações, para que tenhamos grande alegria. Não esqueçam, fomos todos comprados com o preço de Seu sangue, e a Ele devemos pertencer, como nosso Libertador.

Nossos dias estão contados. Cada tique do relógio lembra-nos de seguir Aquele que criou o tempo e existe acima da medida do tempo. Ele somente é capaz de arrancar-nos da devastadora corrente do tempo... Seja vigilante! Você agora possui uma hora a menos até que atravesse os portões da vida após a morte. Não seja seduzido pela doçura momentânea do pecado, que desaparece como um sonho, deixando a alma vazia, doente e angustiada; tomando precioso tempo. Não perca tempo em ocupações inúteis ou ociosidade. Cada um de nós possui um tempo dado por Deus para ser usado. Ocupem-se com a aquisição da riqueza incorruptível do reino dos céus. Sigam o exemplo de tantos que viveram antes de nós, que atingiram o descanso eterno e a alegria através dos trabalhos nesta vida temporal, por suor e lágrimas. Lembrem-se: o que o homem semear, isso também ceifará (Gálatas 6:7), de acordo com a imutável lei da justiça de Deus.

Enquanto ainda há tempo, portanto, corramos para encontrar Cristo e na fé criar para Ele uma morada em nossos corações, para que não sejamos presas do fogo do inferno. Como está escrito: "Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem" (João 15:6). Amém.

Atanásio de Limassol: Deus permite que até os anciãos tenham pontos cegos

Frequentemente encontraremos anciãos sagrados no Monte Athos ou em outro lugar cujas visões sobre questões políticas ou sociais parecerão pouco iluminadas, talvez até tendo tendências nacionalistas ou tons conspiratórios. O metropolita Atanásio de Limassol, que tem raízes atonitas e era discípulo de anciãos sagrados como o S. Paísios, foi questionado especificamente sobre isso e deu uma resposta que vale a pena compartilhar.

Pergunta: "Como é que existem pontos cegos tão evidentes no desenvolvimento de pessoas que um grande número de devotos considera modelos de realização espiritual?"

Resposta: "É claro que este é um problema que me preocupa pessoalmente. No entanto, você deve ter em mente que ser considerado um ancião sagrado não significa que você seja perfeito. Anciões espirituais não são infalíveis. Ninguém é. Pode haver áreas em suas vidas que podem permanecer subdesenvolvidas.

É por isso que as pessoas devem desenvolver discernimento crítico quando embarcam em um caminho espiritual. Você também deve ter em mente, entretanto, que tal falha por parte de um ancião não significa que ele está impedido de obter a salvação.

A medida de sua santidade é a profundidade de sua metanóia [arrependimento] e humildade, não seu conhecimento sobre os eventos mundiais ou a defesa da ideologia política correta. Ele pode ser ignorante e mal orientado em muitos assuntos, mas é sua humildade que importa aos olhos de Deus. Você entende o que quero dizer? Deus permite que os santos anciãos tenham pontos cegos, como no caso de um ancião que pode ter permanecido perdido em seu nacionalismo. "

Extraído de Gifts of the Desert: The Forgotten Path of Christian Spirituality, de Kyriacos C. Markides, pp. 128-129.

Fonte: God Allows Even Holy Elders to Have Blind Spots (John Sanidopoulos).