Sobre a penitência (Metropolita Hilarion Alfeyev)
Dietrich Bonhoeffer sobre a regulação da natalidade
Pe. Lawrence Farley sobre o sacrifício eucarístico
Como S. João Crisóstomo escreveu, na Eucaristia "o sacerdote se coloca diante do altar trazendo do alto, não fogo [como Elias trouxe em seu sacrifício no Monte Carmelo], mas o Espírito Santo. E ele oferece oração longa, não para que alguma chama acesa do alto consuma as ofertas, mas para que a graça caia sobre o sacrifício através dessa oração, acenda as almas de todos e torne-os mais brilhantes que a prata refinada pelo fogo... Não sabeis que nenhuma alma humana poderia suportar esse fogo sacrificial, mas todos seriam aniquilados se não fosse a ajuda poderosa da graça de Deus?" (Sobre o sacerdócio, cap. 7). Aqui temos um incentivo para nos portarmos corretamente e uma razão para temer. Entretanto, o povo não foge diante dessa expectativa, mas responde ousadamente, aguardando "misericórdia, paz, o sacrifício de louvor!"
(...)
Nessa oração [a anáfora] oferecemos nosso sacrifício a Deus, o único sacrifício que podemos oferecer - aquele oferecido de uma só vez por Cristo. Ele é o único verdadeiro Sacerdote na Igreja, pois o sacerdócio da Igreja tem sua raiz em Seu sacerdócio celeste e eterno. A Igreja oferece o sacrifício eucarístico ao apresentar perante Deus em ação de graças o sacrifício eterno de Cristo na Cruz. Como S. Cipriano disse, "a Paixão [a morte de Cristo] é o sacrifício do Senhor, que nós oferecemos" (Ep. 63). Nós oferecemos esse memorial em obediência a Cristo, que, na última Ceia, ordenou Sua Igreja a comer pão e beber vinho reunida "em memória" Dele, como Seu memorial, Sua anamnesis. Fazendo isso, Deus "se lembra" do sacrifício de Cristo na Cruz e de tudo que Ele realizou por nossa salvação - isto é, Ele torna essas realidades presentes e poderosas no meio de Seu povo.
Let Us Attend, A Journey through the Orthodox Divine Liturgy (Padre Lawrence Farley).
Sobre a infalibilidade papal
Q: Must not Catholics believe the pope in himself to be infallible?
A: This is a Protestant invention; it is no article of the Catholic faith; no decision of his can oblige, under pain of heresy, unless it be received and enforced by the teaching body; that is, by the bishops of the Church.
[Tradução:
Q. Não devem os católicos crer que o próprio papa é infalível?
R. Isso é uma invenção protestante; não é nenhum artigo da fé católica; nenhuma decisão dele pode obrigar, sob pena de heresia, a menos que seja recebida e confirmada pelo corpo docente, isto é, pelos bispos da Igreja.]
Antes disso, outras manifestações do alto clero da Igreja Romana na Inglaterra e na Irlanda também indicavam a rejeição da infalibilidade papal. Um exemplo é a Declaração dos Arcebispos e Bispos da Igreja Católica Romana na Irlanda, assinada por dezenas de Arcebispos e Bispos em 25 de janeiro de 1824, que dispõe, sob juramento:
que não é um artigo da fé católica, nem é exigido deles que creiam, que o Papa é infalível.Naquela época, a doutrina da infalibilidade era comumente atribuída "aos italianos" e rejeitada por católicos do norte da Europa.
Nicholas Needham sobre o filioque
Deve-se admitir que o Pai e o Filho são uma única fonte do Espírito Santo, não duas fontes; mas como Pai e Filho são um Deus, um Criador e um Senhor, em relação à criação, então eles são uma fonte em relação ao Espírito Santo (De Trinitate 5:14:15).
Ícone da Teofania: o Espírito desce e pousa sobre Cristo. |
Os relacionamentos entre Pai, Filho e Espírito Santo, que vemos na encarnação e redenção devem refletir e revelar a Trindade ontológica. Logo, o que vemos? Um dos argumentos ocidentais tradicionais para o Filioque era que, na economia da salvação, Cristo outorga o Espírito Santo aos discípulos. O Espírito flui de Cristo, não apenas do Pai. Portanto, de acordo com o argumento, na Trindade ontológica, o Filho deve ser igual ao Pai como fonte comum do Espírito. Porém, no Novo Testamento, Cristo outorga o Espírito Santo à sua Igreja por uma razão particular: a saber, como Cabeça da Igreja, o Pai primeiramente outorgou o Espírito a Cristo. Não é o caso de uma fonte comum; é o caso do Espírito fluindo do Pai para o Filho. Penso na outorga que o Pai faz do Espírito sobre Cristo em seu batismo. Relembro-me da velha máxima nicena contra os arianos: "Se você deseja ver a Trindade, vá ao rio Jordão". Isso faz sentido na visão oriental: você vai ao Jordão e vê o Espírito Santo procedendo do Pai para o Filho. Mas como isso faz sentido na visão ocidental? Então penso em como isso transparece ainda mais fortemente no sermão de Pedro no dia de Pentecoste: "De sorte que, Jesus exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (Atos 2:33). Aqui temos o mesmo padrão de movimento: o Espírito Santo fluindo do Pai para o Filho, então transbordando do Filho para a Igreja. Certamente, penso, o apelo ocidental para a Trindade econômica para defender a cláusula Filioque é suicida. Ele prova o oposto. Ele estabelece a visão oriental.
Devemos contemplar o Espírito como um poder essencial, existindo em sua própria e peculiar subsistência, procedendo do Pai e descansando no Logos [o Filho eterno], e mostrando adiante o Logos, inseparável de Deus em quem existe e do Logos, cujo companheiro ele é.
O verdadeiro profeta do Verbo [João Batista] proclamou: 'Vi o Espírito descer como pomba e permanecer nele' (João 1:32). O Espírito, descendo da parte do Pai, permanece sobre o Filho e no Filho (se você puder aceitar esta última frase)... O profeta Isaías, expositor de oráculos iguais, diz da pessoa de Cristo, 'o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu' (Isaías 61:1). Agora, tendo ouvido que os famosos Gregório e Zacarias [Gregório Magno e Zacarias, papa 741-52] disseram: 'o Espírito permanece no Filho' (pois talvez vossa falta de vergonha tenha dissolvido em medo], por que vós não pensais imediatamente no dito de Paulo, 'o Espírito do Filho'? Estou convencido de que a razão pela qual a Escritura diz que o Espírito é 'do Filho' está perfeitamente certa - e a Escritura não o diz pelos motivos de vosso crime violento [de alterar o Credo niceno]. A Escritura diz 'Espírito do Filho' porque o Espírito está 'no Filho'. Qual afirmação parece dar o sentido mais próximo da expressão apostólica: 'o Espírito permanece no Filho' ou 'o Espírito procede do Filho'?
Sínodo de Antioquia sobre os contraceptivos
Para regular a vida da família, a Igreja aceita o uso de contraceptivos preventivos que não sejam abortivos nem prejudiciais à fertilidade. Nesse contexto, a Igreja recorda que o amor conjugal se expressa não apenas nas relações sexuais, mas no amor mútuo, respeito de um pelo outro todos os dias e na entrega de si mesmos, o que dá um sentido especial a todos os aspectos de suas vidas. Embora a Igreja incentive seus filhos a se reproduzirem e terem filhos, é necessário distinguir “controle de natalidade” e “impedimento de natalidade”. O impedimento de natalidade conduz a uma redução arbitrária da concepção, enquanto o controle de natalidade deixa a cada família a liberdade de decidir em oração e consultar seu pai espiritual ou o pároco, dependendo cada caso do estado de saúde e das circunstâncias espirituais, econômicas e sociais de cada família.~
~ Carta Pastoral do Santo Sínodo Antioquino (2019)
A liderança da Igreja Católica: Agora vs. Então - Parte II
Steven Wedgeworth
E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Gregory Dix sobre o "fazer em memória" eucarístico
O sentido do "fazer em memória"
instruindo Seus discípulos a oferecer a Deus as primícias de Sua própria criação, não como se Ele necessitasse delas, mas para que eles não ficassem ociosos nem ingratos; Ele tomou o pão que vem da criação (material) e deu graças, dizendo, Isto é o Meu Corpo. E o cálice semelhantemente, que é tirado das coisas criadas, como nós mesmos, Ele reconheceu como Seu próprio Sangue, e ensinou a nova oblação do Novo Testamento. A qual a Igreja, aprendendo por tradição dos apóstolos, ao redor do mundo oferece a Deus, a Ele mesmo que nos provê com nossos alimentos, as primícias de Seus próprios dons na Nova Aliança... Devemos fazer a oblação a Deus e ser encontrados agradáveis a Deus nosso criador em todas as coisas, com crença correta e fé pura, esperança firme e uma caridade ardente, oferecendo as primícias daquelas coisas que são Suas criaturas... Nós oferecemos a Ele o que é Dele, assim apropriadamente proclamando a comunhão e unidade da carne e do espírito. Pois como o pão (que vem) da terra, recebendo a invocação de Deus, não é mais pão comum mas a eucaristia - consistindo de duas realidades, uma terrena e outra celestial; assim também nossos corpos recebendo a eucaristia não são mais corruptíveis, tendo a esperança da ressurreição eterna... Ele quer que ofereçamos nosso dom no altar frequentemente e sem interrupção. Há, portanto, um altar no céu, pois para lá nossas orações e oblações são direcionadas.Sem dúvida, Irineu considera a eucaristia como uma 'oblação' oferecida a Deus, mas é bom notar o sentido particular que ele enfatiza seu caráter sacrificial. Primariamente, a eucaristia é para ele um sacrifício de 'primícias', reconhecendo a bondade do Criador em nos prover nosso sustento, em vez de uma 'representação' do sacrifício do Calvário à maneira paulina. É verdade que Irineu não hesita em dizer que 'o cálice misturado e o pão fabricado recebem a Palavra de Deus e tornam-se a eucaristia do Corpo e do Sangue de Cristo', e outros ensinos similares. Há, também, a adição significativa das palavras 'na Nova Aliança' às 'primícias de Seus próprios dons'. Irineu é claro, também, que a morte de Cristo foi um sacrifício, do qual o sacrifício abortivo de Isaque por seu próprio pai foi uma prefiguração. Mas quando tudo é dito e feito, ele nunca une claramente essas duas ideias ou chama a eucaristia de oferecimento ou 'representação' do sacrifício de Cristo.
É concebível que os erros particulares das seitas gnósticas, os quais Irineu combatia (que ensinavam que as coisas da criação material eram radicalmente más), tem algo a ver com sua ênfase no oferecimento eucarístico das 'primícias da criação'.
(...)
Mas para Cipriano, toda a questão de como a eucaristia constitui um sacrifício está clara e completamente definida como estaria para um teólogo pós-tridentino:
'Uma vez que fazemos menção de Sua paixão em todos os nossos sacrifícios, pois a paixão é o sacrifício do Senhor que nós oferecemos, nada devemos fazer senão o que Ele fez (na última ceia)' [Ep. LXIII].Não há qualquer razão para pensarmos que Cipriano foi o inventor desse modo de definir o sacrifício eucarístico, ou de qualquer modo intencional seu partidário. Mas ele provou ser seu maior propagador. Cipriano é o mais atrativo dos autores pré-Nicenos e, dentre os ocidentais, sempre o mais lido em tempos posteriores. Sua explicação do sacrifício tinha uma simplicidade que a recomendou à devoção popular, e esse tipo de unidade e lógica direta que sempre apelou aos teólogos ocidentais. Não é surpreedente que a doutrina do sacrifício - que podemos chamar por conveniência de 'cipriânica' - prevaleceu no ocidente, quase ao ponto da exclusão daquela linha de pensamento que era proeminente em Irineu. O ensino de Cirilo de Jerusalém posteriormente levou a um desenvolvimento similar, na linha 'cipriânica', no ensinamento oriental sobre o sacrifício eucarístico (embora os orientais dificilmente tenham alcançado a mesma precisão em seu entendimento da matéria como os ocidentais posteriores).
(...)
Há uma testemunha mais antiga que Irineu ou Cipriano para o equilíbrio original da doutrina eucarística ocidental - Justino. Ele fala da eucaristia como o 'sacrifício puro' dos cristãos, 'assim como para recordação (diante de Deus, anamnesis) de seu sustento em comida e bebida, na qual é feito também o memorial (memnetai) da paixão que o Filho de Deus sofreu por ele' [Dial. 117]. Irineu e Cipriano desenvolvem cada um metade dessa interpretação da eucaristia, não em oposição, mas em isolamento um do outro. Mas é interessante notar que a mais antiga oração eucarística ocidental, a de Hipólito - um admitido seguidor de Irineu -, já torna a doutrina 'cipriânica' o aspecto mais proeminente da matéria, uma geração antes de Cipriano escrever.
Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro. Aquele que está de briga com seu companheiro não poderá juntar-se a vocês antes de se ter reconciliado, para que o sacrifício que vocês oferecem não seja profanado. Este é o sacrifício do qual o Senhor disse: 'Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro, porque eu sou um grande rei, diz o Senhor, e o meu Nome é admirável entre as nações' (Didaquê, 9-10, 14)
Para nós, não seria culpa leve se exonerássemos do episcopado aqueles que apresentaram os dons de maneira irrepreensível e santa (Epístola aos Coríntios, 42 e 44).
Preocupai-vos em participar de uma só eucaristia. De fato, há uma só carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só cálice na unidade do seu sangue, um único altar, assim como um só bispo com o presbitério e os diáconos, meus companheiros de serviço. Desse modo, o que fizerdes, fazei-o segundo Deus (Epístola aos filadelfienses, 3).
Eu dizia, senhores, que também a oblação de flor de farinha que, conforme a tradição [Lv. 14:10], é oferecida pelos que são purificados da lepra, era figura do pão da ação de graças em relação ao qual Jesus Cristo Nosso Senhor mandou fazer em memória da paixão que ele sofreu pelos que são purificados nas almas de toda maldade dos homens, para que rendêssemos graças a Deus por ter criado o universo com todas as coisas que nele existem através do homem e, ao mesmo tempo, por nos ter libertado do mal em que nascemos, e ter destruído fatalmente os principados e as potestades, através daquele que, segundo sua vontade, nasceu passível (...).
Já então ele [Malaquias] profetiza sobre os sacrifícios a ele oferecidos em todo lugar por nós gentios, isto é, do pão da ação de graças como também do cálice da ação de graças, dizendo que nós glorificaremos o seu nome, vós, porém o profanais.
(...) Pois bem, é manifesto que também nesta profecia [de Isaías] sobre o pão se trata do pão em relação ao qual o nosso Cristo nos mandou fazer em memória de se ter feito homem pelos que crêem nele, pelos quais também se tornou passível, e se trata também do cálice em relação ao qual mandou fazer com ação de graças em memória do seu sangue... [Nós] somos a verdadeira raça sacerdotal de Deus, como atesta o próprio Deus, dizendo haver em todo lugar entre os gentios quem lhe oferecesse sacrifícios agradáveis e puros. Ora, Deus não aceita sacrifícios de ninguém, a não ser através dos seus sacerdotes.
Portanto, já de antemão Deus atesta que através deste nome lhe são fundamentalmente agradáveis todos os sacrifícios que Jesus Cristo mandou que se fizessem, a saber, na ação de graças do pão e do cálice, realizados em todos os lugares da terra pelos cristãos; ao passo que repele os sacrifícios feitos por vós, os realizados por aqueles vossos sacerdotes, dizendo: 'E vossos sacrifícios não os receberei das vossas mãos; pois do levantar ao pôr-do-sol meu nome é glorificado', diz ele, 'entre os gentios, ao passo que vós o profanais' [Ml 1:11-12]. E até agora, procurando rivalidades, dizeis que Deus não aceita os sacrifícios oferecidos em Jerusalém pelos chamados israelitas que então aí habitavam, mas por outro lado dizeis que ele teria dito que as orações feitas pelos homens daquela linhagem que se encontravam na dispersão chegavam até ele e que ele chama de sacrifícios as suas orações. Ora, que as orações e as ações de graças feitas pelos justos são os únicos sacrifícios perfeitos e agradáveis a Deus também eu o afirmo. Pois somente estes também os cristãos os receberam para fazer, e isto, em comemoração do seu alimento seco e líquido, no qual eles recordam a paixão que por eles sofreu o Filho de Deus (Diálogo com o judeu Trifão, 41-117).
'A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas. Já abateu os seus animais e misturou o seu vinho, e já preparou a sua mesa' [Prov. 9:1-2], o que denota o prometido conhecimento da Santa Trindade; também refere-se ao Seu honrado e imaculado corpo e sangue, os quais são administrados e oferecidos sacrificialmente na mesa espiritual divina, como memorial da primeira e memorável mesa da Ceia espiritual divina. E novamente: 'Já ordenou às suas criadas' [Prov. 9:3], a sabedoria - isto é, Cristo - tem feito isso por um anúncio sublime. 'Quem é simples, volte-se para cá' [Prov. 9:4], diz a sabedoria, aludindo manifestamente aos santos apóstolos, que viajaram o mundo todo, e chamaram as nações ao conhecimento Dele em verdade, com sua pregação sublime e divina. E novamente: 'Aos faltos de senso diz' - isto é, àqueles que ainda não receberam o poder do Espírito Santo - 'Vinde, comei do meu pão, e bebei do vinho que tenho misturado' [Prov. 9:5], o que significar dizer que Ele deu Sua carne divina e seu sangue honrado para nós, para comermos e bebermos para a remissão dos pecados (Fragmentos sobre os Provérbios).
Por isso, nós que nos lembramos de sua morte e Ressurreição, oferecendo-te o pão e o cálice, dando-te graças porque nos consideraste dignos de estar diante de ti e de servir-te. E te pedimos que envies o teu Espírito Santo à Oblação da santa Igreja... (Tradição Apostólica).
Depois de terminado o sacrifício espiritual, rito incruento, pedimos a Deus, sobre esta hóstia de propiciação, pela paz universal da Igreja, pela justa ordem do mundo, pelos imperadores, pelos nossos soldados e pelos aliados, pelos doentes, pelos aflitos, e todos nós rogamos por todos, em geral, quantos precisam de ajuda; oferecemos esta vítima... e depois recomendamos também os santos padres e bispos, e em conjunto todos os nossos defuntos, convencidos como estamos que esta será a maior ajuda para as almas, por quem se oferece a oração, enquanto está presente a Vítima santa que infunde o maior respeito...
Do mesmo modo também nós, oferecendo orações a Deus pelos defuntos, mesmo pecadores, não lhe tecemos uma coroa, mas oferecemos-lhe Cristo imolado pelos nossos pecados, procurando conciliar a clemência de Deus em nosso favor e em favor deles (Catequeses Mistagógicas).
Queres saber mediante quais palavras celestes se consagra? Escuta quais são as palavras. O sacerdote diz: 'Faze para nós com que esta oferta seja aprovada, espiritual, aceitável, porque é a figura do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual, antes de sua paixão, tomou o pão em suas santas mãos, olhou para o céu, para ti, Pai santo, Deus todo-poderoso e eterno, deu graças, o abençoou, o partiu, e partindo o deu a seus apóstolos e discípulos, dizendo: Tomai e comei disso todos, porque isto é o meu corpo que será partido para muitos'.
[...] O sacerdote também diz: "Celebrando, pois, a memória de sua gloriosíssima paixão, da ressurreição dos infernos e da ascensão ao céu, nós te oferecemos esta hóstia imaculada, hóstia espiritual, hóstia incruenta, este pão santo e o cálice da vida eterna, te pedimos e suplicamos para que aceites esta oferta no teu sublime altar pelas mãos dos teus anjos, assim como dignaste aceitar as ofertas do teu servo o justo Abel, o sacrifício do nosso patriarca Abraão e o que te ofereceu o sumo sacerdote Melquisedec" (Sobre os sacramentos, IV).
A liderança da Igreja Católica: Agora vs. Então - Parte I
Entre outras coisas, a eclesiologia de Roma impede qualquer tentativa de total transparência ou responsabilidade. Como Massimo Faggioli assinalou, com bastante razão, tentar forçar a renúncia do papa vai contra o direito canônico. Esta não é uma nova ideologia. Já no século 12, os juristas romanos declaravam que “aquele que está em uma posição de juiz de todos, não pode ser julgado por ninguém”. Isso foi reafirmado pelo Concílio Vaticano I, que afirma: “A sentença da Sé Apostólica (sem a qual não há autoridade superior) não está sujeita a revisão por ninguém, nem pode ninguém legalmente julgar sobre ela” (Sessão 4, Capítulo 3, Ponto 8).
Roma também ensina que os leigos não devem se envolver no governo da igreja. Escrevendo em 1906, o Papa Pio X também reafirmou que os leigos não devem resistir ao governo do clero:
A Igreja é essencialmente uma sociedade desigual, isto é, uma sociedade constituída por duas categorias de pessoas, os Pastores, que ocupam uma posição nos diversos graus da hierarquia, e o rebanho ou a multidão dos fiéis. Essas categorias são tão distintas que com o corpo pastoral apenas repousa o direito e a autoridade necessários para promover o fim da sociedade e dirigir todos os seus membros para esse fim; o único dever da multidão é deixar-se conduzir e, como dócil rebanho, seguir os Pastores (Vehementer Nos).
Muitos católicos romanos piedosos e tradicionais admitiram essencialmente este ponto. Eles simplesmente não podem deixar a Igreja Católica Romana, mesmo que as piores alegações sejam todas verdadeiras. Sua salvação depende disso. Com uma mistura de confiança e desespero, eles citam retoricamente João 6: “Para onde mais podemos ir?” E de acordo com a teologia católica romana, seu ponto é válido. Nesses termos, Jesus confinou Sua igreja à jurisdição clerical do bispo de Roma, e simplesmente não há apelo além dela ou, no caso de tirania espiritual, forma de escapar dela. A fim de ganhar a salvação, eles devem “odiar sua vida” (como diria o raciocínio de uma leitura eclesiástica de João 12:25), e isso inclui submeter-se ao abuso em sua própria igreja.
Dada a enormidade dos escândalos de abuso da Igreja Católica Romana, é justo, razoável e amoroso chamar católicos individualmente para investigar verdadeiramente as reivindicações de sua igreja. Se não for o que afirma ser, então não pode sustentar suas exigências de alto risco para os leigos. Se Roma não é a única igreja verdadeira, então exige que seu clero e seus membros mentem. Se Roma não é a única igreja verdadeira, então atualmente exige que seus membros arrisquem sua segurança espiritual e física. Devem abandoná-lo imediatamente, para seu próprio bem e para o bem de seus filhos. E se Roma não é a única igreja verdadeira, então todos os homens de boa vontade deveriam querer que essa verdade fosse conhecida.
"... A sé apostólica e o pontífice romano detêm uma primazia mundial, e que o pontífice romano é o sucessor do beato Pedro, o príncipe dos apóstolos, verdadeiro vigário de Cristo, cabeça de toda a igreja e pai e mestre de todos os cristãos. A ele, no bendito Pedro, todo o poder foi dado por nosso Senhor Jesus Cristo para cuidar, governar e alimentar a igreja universal" (Sessão 4, Capítulo 3, Ponto 1).
Certas implicações decorrem diretamente deste fato:
"Portanto, ensinamos e declaramos que, por ordenança divina, a igreja romana possui uma preeminência de poder ordinário sobre todas as outras igrejas, e que esse poder jurisdicional do pontífice romano é episcopal e imediato. Tanto o clero quanto os fiéis, de qualquer rito e dignidade, tanto individual quanto coletivamente, são obrigados a se submeter a esse poder pelo dever de subordinação hierárquica e verdadeira obediência, e isso não apenas em questões relativas à fé e à moral, mas também naquelas que dizem respeito a disciplina e o governo da igreja em todo o mundo" (Sessão 4, Capítulo 3, Ponto 2).O Concílio é claro que essa autoridade se aplica tanto à fé quanto à moral, tanto no ensino de proclamações quanto nas decisões sobre governo e disciplina. Qualquer apelo a um concílio sobre e contra um papa é proibido (4.3.8), e qualquer pessoa que rejeitar o poder plenário absoluto do papa na fé, moral, disciplina ou governo é colocado sob um anátema (4.3.9).
O direito canônico católico atual também prescreve esse tipo de identidade eclesiástica. Diz:
Cânon 331. O bispo da Igreja Romana, em quem continua o ofício conferido pelo Senhor exclusivamente a Pedro, o primeiro dos apóstolos, e a ser transmitido aos seus sucessores, é o chefe do colégio dos bispos, o Vigário de Cristo, e o pastor da Igreja universal na terra. Em virtude de seu ofício, ele possui o poder ordinário supremo, pleno, imediato e universal na Igreja, que sempre pode exercer livremente.Cânon 333. §1. Em virtude de seu ofício, o Romano Pontífice não só possui poder sobre a Igreja universal, mas também obtém o primado do poder ordinário sobre todas as igrejas particulares e grupos delas. Além disso, esta primazia fortalece e protege o poder próprio, ordinário e imediato que os bispos possuem nas igrejas particulares confiadas aos seus cuidados.§2. No cumprimento do cargo de pastor supremo da Igreja, o Romano Pontífice está sempre unido em comunhão com os outros bispos e com a Igreja universal. Não obstante, ele tem o direito de, de acordo com as necessidades da Igreja, determinar a forma, pessoal ou colegiada, de exercer esse ofício.§3. Nenhum apelo ou recurso é permitido contra uma sentença ou decreto do Romano Pontífice.
Tudo isso é o que Roma proclama sobre a Igreja, e é nisso que os católicos devem acreditar se acreditam que a Igreja Católica Romana é a única igreja verdadeira, a igreja fundada por Jesus Cristo.
1. Que a igreja romana foi fundada somente por Deus.Muitos contestam a validade e autoridade de Dictatus Papae, e por isso é importante apontar que suas afirmações são ecoadas pelos Decretais de Graciano (com a importante ressalva de que os decretos parecem permitir que um papa seja julgado em caso de heresia, embora teólogos posteriores estejam divididos sobre como isso poderia realmente funcionar. A lei canônica atual o impede: “Can. 1404. A Primeira Sé não é julgada por ninguém.”).
2. Que só o pontífice romano pode, com direito, ser chamado de universal.
4. Que, num concílio, o seu legado, mesmo que de grau inferior, está acima de todos os bispos, e pode decretar sentença de depoimento contra eles.
15. Que aquele que é por ele ordenado presida outra igreja, mas não ocupe cargo subordinado; e que tal pessoa não pode receber um grau mais alto de qualquer bispo.
18. Uma sentença proferida por ele não pode ser retratada por ninguém; e ele mesmo, o único de todos, pode retratá-la.
19. Ele mesmo não pode ser julgado por ninguém.
O Quarto Concílio de Latrão de 1215 sustentou que todas as outras igrejas estão subordinadas a Roma:
"Decretamos, com a aprovação deste sagrado sínodo universal, que depois da igreja romana, que pela disposição do Senhor tem o primado do poder ordinário sobre todas as outras igrejas, visto que é a mãe e senhora de todos os fiéis de Cristo, a igreja de Constantinopla terá o primeiro lugar, a igreja de Alexandria o segundo lugar, a igreja de Antioquia o terceiro lugar e a igreja de Jerusalém o quarto lugar, cada uma mantendo sua própria posição".Isso foi exposto em 1302, quando a Unam Sanctam argumentou:
"Portanto, da única Igreja há um corpo e uma cabeça, não duas cabeças como um monstro; isto é, Cristo e o Vigário de Cristo, Pedro e o sucessor de Pedro, visto que o Senhor falando ao próprio Pedro disse: 'Apascenta minhas ovelhas' [Jo 21,17], ou seja, minhas ovelhas em geral, não estas, nem aquelas em particular, de onde entendemos que Ele confiou tudo a ele [Pedro]. Portanto, se os gregos ou outros disserem que não são confiados a Pedro e aos seus sucessores, devem confessar não serem ovelhas de Cristo, pois Nosso Senhor diz em João: 'há um só redil e um pastor'."Aqui vemos uma afirmação exegética de que Jesus confiou o governo de toda a igreja a Pedro e seus sucessores em João 21:17. Isso é importante porque não permite qualquer afirmação posterior de que a Igreja Católica poderia desenvolver esse tipo de ensino. Unam Sanctam não afirma que o ensino estava vagamente presente em forma de semente, precisando ser esclarecido e aplicado de uma nova maneira. Diz que seu ensino vem diretamente de Jesus.
O Concílio de Florença de 1439 fez esta declaração:
"Também definimos que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano detém o primado sobre todo o mundo e o Pontífice Romano é o sucessor do beato Pedro, príncipe dos apóstolos, e que ele é o verdadeiro vigário de Cristo, o cabeça de toda a Igreja e o pai e mestre de todos os cristãos, e a ele foi confiado no beato Pedro o pleno poder de cuidar, governar e apascentar toda a igreja, como está contido também nos atos dos concílios ecumênicos e nos cânones sagrados."Novamente, vemos que o bispo romano recebe ensino universal e autoridade governante sobre toda a igreja (na verdade, todo o mundo), e ele recebe essa autoridade por meio de Pedro, que a recebeu de Cristo.
O Concílio de Trento esclareceu que o clero católico romano não recebe sua autoridade dos leigos e, portanto, sua ordenação e autoridade não dependem do consentimento dos leigos:
Além disso, o sagrado e santo Sínodo ensina que, na ordenação de bispos, sacerdotes e de outras ordens, nem o consentimento, nem a vocação, nem a autoridade, seja do povo, seja de qualquer poder civil ou magistrado, seja exigida em tal sentido que sem isso, a ordenação é inválida (23ª Sessão, Capítulo 4)
CÂNON VI. – Se alguém disser que, na Igreja Católica não há uma hierarquia instituída por ordenação divina, consistindo de bispos, padres e ministros; que ele seja anátema.Mais uma vez, afirma-se que a hierarquia da Igreja Católica veio por ordenação divina. Os bispos são considerados superiores aos sacerdotes, e a validade de qualquer ordenação não depende do consentimento dos leigos, mas do poder eclesiástico superior.
CÂNON VII. – Se alguém disser, que os bispos não são superiores aos sacerdotes; ou que eles não têm o poder de confirmar e ordenar; ou, que o poder que possuem é comum a eles e aos sacerdotes; ou, que as ordens, conferidas por eles, sem o consentimento, ou vocação do povo, ou do poder secular, são inválidas; ou, que aqueles que não foram ordenados corretamente, nem enviados, pelo poder eclesiástico e canônico, mas vêm de outro lugar, são ministros legítimos da palavra e dos sacramentos; que ele seja anátema.
Assim, a definição completa do governo da Igreja feita pelo Concílio Vaticano I já foi feita de várias maneiras entre os séculos XI e XVI. É claramente um dogma católico romano. Afirma que o governo hierárquico da igreja é monoepiscopal, descendo de Jesus a Pedro, ao bispo de Roma e depois a todas as outras igrejas. Este governo é universal e absoluto, e o bispo de Roma ensina e governa todas as igrejas cristãs imediatamente. Nenhum julgamento pode ser feito sobre ele e nenhum recurso pode ser feito além dele.