Dumitru Staniloae sobre o filioque

 

A doutrina católica sobre a processão do Espírito Santo do Pai e do Filho como de um único princípio — que foi formulada com a intenção de fortalecer a comunhão entre o Pai e o Filho — ofende os dois pontos acima tratados: a generosa extensão do amor entre Pai e Filho, e a preservação de sua distinção como pessoas, particularmente no caso da pessoa do Espírito Santo.

Ao enfatizar o amor entre o Pai e o Filho a ponto de confundi-los em um único princípio da processão do Espírito Santo, a teologia católica não os vê mais como pessoas distintas. Mas o efeito disso é tornar impossível até mesmo o amor entre eles, pois, como no ato da processão do Espírito Santo, eles não existem mais como duas pessoas, Pai e Filho não podem mais se amar propriamente falando. Além disso, a existência do Espírito como terceiro, ou seu papel como aquele que mostra a grandeza do amor entre Pai e Filho e que preserva sua distinção como pessoas, deixa de ter qualquer objeto. Nesse mal-entendido da Trindade, o Espírito Santo não é mais, estritamente falando, o terceiro, mas o segundo. Ele aparece mais como aquele que afoga os dois numa unidade indistinta. E se, para ser a causa comum da processão do Espírito Santo, os dois se afogam de fato em algum todo indistinto, então o Espírito – como aquele que resulta desse todo indistinto – também não pode ser pessoa.

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São Gregório Palamas diz: “[O Espírito] pertence também ao Filho que o possui do Pai como Espírito de verdade, sabedoria e palavra... uma Palavra que se alegra com o Pai que se alegra nele... pois esta alegria pré-eterna do Pai e do Filho é o Espírito Santo, na medida em que lhes é comum pela mútua intimidade. Portanto, ele é enviado aos dignos, por ambos, mas em seu vir a ser ele pertence somente ao Pai e, assim, ele também procede somente dele em sua maneira de vir a ser”.

É neste sentido que o Espírito Santo une Pai e Filho, mas sem deixar de ser uma pessoa distinta e sem proceder também do Filho. Este é o sentido em que o Espírito é também “o Espírito do Filho”, mas neste resplendor do Espírito de si mesmo o Filho permanece Filho e não se torna Pai do Espírito. O Espírito não é ele mesmo a alegria. Ele é aquele que, participando da alegria que o Pai tem no Filho e o Filho tem no Pai, manifesta em sua plenitude a alegria que um tem no outro, ou a alegria que os três têm entre si. Assim observa Santo Atanásio: “O Senhor disse que o Espírito é o Espírito da Verdade e o Consolador; com isso mostrou que nele está a Trindade perfeita”.

~ A Experiência de Deus: Teologia Dogmática Ortodoxa, volume 1.

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