Nicholas Needham sobre o filioque

Trechos retirados de: The Filioque Clause: East or West?

Antes de Agostinho, a tendência geral da teologia patrística - especialmente no Oriente - era amplamente conceber a unidade de Deus principalmente em termos de Deus Pai [veja, por exemplo, a Confissão de Fé de Gregório Taumaturgo e as palestras catequéticas de Cirilo de Jerusalém, cap. 4]. De acordo com a máxima da teologia patrística grega, 'Há um Deus porque há um Pai' [veja Vladimir Lossky, The Mystical Theology of the Eastern Church, Londres, 1957, cap.3, especialmente p. 58]. É fácil para aqueles que foram criados no pensamento trinitário ocidental entender erroneamente isso. Dizer que Deus em sua unidade é principalmente o Pai não significa, para os Padres da Igreja anti-ariana, que o Filho e o Espírito Santo são menos divinos do que o Pai. Significa que o Pai é a 'fonte da divindade', o principal possuidor e doador da essência divina. O Pai, em outras palavras, possui a essência divina em e por si só, enquanto o Filho e o Espírito Santo a possuem do Pai. Nesse sentido específico, a unidade de Deus repousa principalmente no Pai. O ser do Filho e do Espírito Santo é de fato plena e verdadeiramente divino - mas por isso mesmo: que é o verdadeiro ser do Pai comunicado a eles pela geração eterna do Filho e pela processão eterna do Espírito. A divindade, invisibilidade, imortalidade e eternidade do Filho são precisamente a divindade, invisibilidade, imortalidade e eternidade do próprio Pai, verdadeiramente possuídas pelo Filho por meio de sua geração eterna do Pai.

A subordinação envolvida não é uma subordinação ontológica da essência, mas uma subordinação relacional das Pessoas (hipóstases), referindo-se não à própria essência divina, mas à maneira ou modo de possuí-la. O Pai é Deus simpliciter; o Filho é 'Deus de Deus', theos ek theou, como afirma o Credo de Nicéia, Deus procedendo de Deus por geração eterna. Da mesma forma, o Espírito Santo é 'Deus de Deus', Deus procedendo de Deus por meio de espiração eterna ('assoprar').

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Para Agostinho, então, a processão do Espírito 'do Filho também' era importante para salvaguardar a identidade e personalidade distintas do Espírito - para evitar que ele fosse outro Filho. Isso, é claro, criou a tensão com a compreensão pré-agostiniana do Pai como fonte da divindade, pois, no caso do Espírito, agora parece que temos Pai e Filho como fontes duplas, espiradores duplos. Essa seria uma objeção oriental frequentemente repetida: como pode haver duas fontes da essência divina? Isso não separa Pai e Filho em dois deuses? Para Agostinho, não, porque ele já havia transferido a unidade de Deus da Pessoa do Pai para a própria essência divina. Portanto, Agostinho argumentou que era a essência divina comum ao Pai e ao Filho que agia como única fonte do Espírito. Agostinho diz assim:
Deve-se admitir que o Pai e o Filho são uma única fonte do Espírito Santo, não duas fontes; mas como Pai e Filho são um Deus, um Criador e um Senhor, em relação à criação, então eles são uma fonte em relação ao Espírito Santo (De Trinitate 5:14:15).
Os teólogos orientais nunca cessaram de atacar essa "fusão" do Pai e do Filho de volta à essência divina para ser a única fonte do Espírito. Eles ressaltaram que ela entrava em conflito com a teologia trinitária tradicional, elaborada no século IV por Atanásio e os padres da Capadócia. Se a essência divina era a fonte de um ato não peculiar a uma das Pessoas, esse ato era compartilhado por todas as três Pessoas, não apenas por duas delas; ao passo que, se houvesse algum ato não compartilhado por todas as três Pessoas, esse ato constituiria uma propriedade peculiar de uma das Pessoas, pertencente à sua hipóstase particular e a distinguiria das outras duas. Agostinho violou ambas as regras. Primeiro, ele postulou um ato da essência divina - espiração - compartilhado por duas das Pessoas com exclusão da terceira. Em segundo lugar, ele atribuiu a propriedade hipostática peculiar de 'espiração' à hipostase do Pai e do Filho igualmente; e isso, de acordo com o trinitarismo tradicional, deveria tê-los comprimido em uma quarta hipóstase divina, uma espécie de gêmeo Pai-Filho siamês, com uma nova identidade pessoal única (Deus, o Espirador) em relação ao Espírito Santo.

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Ícone da Teofania: o Espírito desce e pousa sobre Cristo.

Os relacionamentos entre Pai, Filho e Espírito Santo, que vemos na encarnação e redenção devem refletir e revelar a Trindade ontológica. Logo, o que vemos? Um dos argumentos ocidentais tradicionais para o Filioque era que, na economia da salvação, Cristo outorga o Espírito Santo aos discípulos. O Espírito flui de Cristo, não apenas do Pai. Portanto, de acordo com o argumento, na Trindade ontológica, o Filho deve ser igual ao Pai como fonte comum do Espírito. Porém, no Novo Testamento, Cristo outorga o Espírito Santo à sua Igreja por uma razão particular: a saber, como Cabeça da Igreja, o Pai primeiramente outorgou o Espírito a Cristo. Não é o caso de uma fonte comum; é o caso do Espírito fluindo do Pai para o Filho. Penso na outorga que o Pai faz do Espírito sobre Cristo em seu batismo. Relembro-me da velha máxima nicena contra os arianos: "Se você deseja ver a Trindade, vá ao rio Jordão". Isso faz sentido na visão oriental: você vai ao Jordão e vê o Espírito Santo procedendo do Pai para o Filho. Mas como isso faz sentido na visão ocidental? Então penso em como isso transparece ainda mais fortemente no sermão de Pedro no dia de Pentecoste: "De sorte que, Jesus exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (Atos 2:33). Aqui temos o mesmo padrão de movimento: o Espírito Santo fluindo do Pai para o Filho, então transbordando do Filho para a Igreja. Certamente, penso, o apelo ocidental para a Trindade econômica para defender a cláusula Filioque é suicida. Ele prova o oposto. Ele estabelece a visão oriental.

Então podemos olhar novamente para o texto clássico sobre o qual Oriente e Ocidente disputaram por séculos, João 15:26: "Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim". O Oriente constantemente tem apontado que a processão do Espírito do Pai é claramente falada aqui, mas não do Filho - "o Espírito de verdade, que procede do Pai". O contra-argumento ocidental era que Jesus também diz que o Espírito Santo é aquele "que eu vos hei de enviar". Logo, Pai e Filho são uma fonte comum. Mas é isso que o texto diz? Leio novamente. Jesus diz do Espírito, "da parte do Pai vos hei de enviar". Não "de minha parte vos hei de enviar", ou "de nossa parte", mas "da parte do Pai". Então de novo temos esse padrão de movimento: o Espírito Santo procedendo do Pai para o Filho, e então do Filho para nós. Cristo nos envia o Espírito da parte do Pai.

A seguir podemos considerar o argumento ocidental tradicional de que os títulos "Espírito de Cristo" e "Espírito do Filho", presentes no Novo Testamento, provam que o Filho é uma fonte comum do Espírito juntamente com o Pai. À luz do que já vimos, essas frases parecem não provar nada disso. Certamente o Espírito pode ser apropriadamente chamado "Espírito de Cristo" e "Espírito do Filho" porque o Espírito repousa sobre o Filho, permanecendo nele. Se a Trindade econômica é verdadeiramente fundada na Trindade ontológica, não podemos dizer que o Espírito Santo é o Espírito do Pai por possessão original, e Espírito do Filho por uma eterna processão do Espírito para o Filho da parte do Pai, de modo que desde toda eternidade o Espírito descansa no Filho e permanece nele - que o Filho é a eterna morada, o templo atemporal, do Espírito de seu Pai? E assumindo a carne na encarnação, o Filho agora santifica a humanidade em si mesmo para ser o templo terreno do Espírito. Verifiquei alguns dos escritos orientais e encontrei, para minha fascinação, esses meus pensamentos hesitantes estabelecidos pelos pensadores orientais. Por exemplo, lemos isso na Exposição Exata da Fé Ortodoxa de João Damasceno:
Devemos contemplar o Espírito como um poder essencial, existindo em sua própria e peculiar subsistência, procedendo do Pai e descansando no Logos [o Filho eterno], e mostrando adiante o Logos, inseparável de Deus em quem existe e do Logos, cujo companheiro ele é.
E isso na Mistagogia do Espírito Santo de Fócio:
O verdadeiro profeta do Verbo [João Batista] proclamou: 'Vi o Espírito descer como pomba e permanecer nele' (João 1:32). O Espírito, descendo da parte do Pai, permanece sobre o Filho e no Filho (se você puder aceitar esta última frase)... O profeta Isaías, expositor de oráculos iguais, diz da pessoa de Cristo, 'o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu' (Isaías 61:1). Agora, tendo ouvido que os famosos Gregório e Zacarias [Gregório Magno e Zacarias, papa 741-52] disseram: 'o Espírito permanece no Filho' (pois talvez vossa falta de vergonha tenha dissolvido em medo], por que vós não pensais imediatamente no dito de Paulo, 'o Espírito do Filho'? Estou convencido de que a razão pela qual a Escritura diz que o Espírito é 'do Filho' está perfeitamente certa - e a Escritura não o diz pelos motivos de vosso crime violento [de alterar o Credo niceno]. A Escritura diz 'Espírito do Filho' porque o Espírito está 'no Filho'. Qual afirmação parece dar o sentido mais próximo da expressão apostólica: 'o Espírito permanece no Filho' ou 'o Espírito procede do Filho'?
O argumento de Fócio em Isaías 61 abre outra linha de pensamento. O próprio nome Cristo, Messias, significa O Ungido - ungido com o Espírito Santo. Aqui vemos aquele movimento de novo, do Espírito da parte do Pai para o Filho. Isso não reflete algo das relações eternas do Pai com o Filho? Não podemos dizer que, de certo modo, o Pai sempre, eternamente, está ungindo seu Filho com seu Espírito Santo? Isso realmente não é dizer mais do que João Damasceno e Fócio dizem, que o Espírito eternamente repousa e permanece no Filho, exceto que agora estamos descrevendo isso como "ungir". E quando o Filho tornou-se carne, esse relacionamento foi então inserido e realizado na humanidade do Filho.

- The Filioque Clause: East or West?