A distinção entre adoração e veneração no 7º Concílio ecumênico


Trecho da Carta do Concílio de Nicéia II (787) ao Imperador Romano:

[Nós decretamos] que essas imagens devem ser reverenciadas [προσκυνεῖν, proskynein], isto é, reverências devem ser oferecidas a elas. A razão para usar a palavra é que ela tem um significado duplo. Pois κυνεῖν na antiga língua grega significa saudar e beijar. E a preposição προς dá a ela a ideia adicional de forte desejo pelo sujeito; como por exemplo, temos φέρω e προσφέρω [oferecer], κυρῶ e προσκυρῶ [submeter], e também temos κυνέω e προσκυνέω [venerar, cultuar, curvar-se diante, reverenciar, etc]. Esta última palavra implica reverência e forte afeto; porque aquele que ama, ele também reverencia (προσκυνεῖ) e o que ele reverencia também muito ama, como testemunha o costume cotidiano, que observamos para com aqueles que amamos, e no qual ambas as idéias são praticamente ilustradas quando dois amigos se encontram. A palavra não é apenas usada por nós, mas também a encontramos registrada nas Escrituras Divinas pelos antigos. Pois está escrito nas histórias dos reis: 'E Davi se levantou e se prostrou sobre seu rosto e fez reverência a (προσεκυνήσε, proskunese) Jônatas três vezes e o beijou' [1 Samuel 20:41].

(...)

Temos também o exemplo do divino apóstolo Paulo, conforme relata Lucas nos Atos dos Apóstolos: 'Quando chegamos a Jerusalém, os irmãos nos receberam com alegria e, no dia seguinte, Paulo foi conosco a Tiago e a todos os presbíteros estavam presentes. E quando ele os saudou (ἀσπασάμενος, aspasamenos), ele declarou particularmente o que Deus havia feito entre os gentios por seu ministério' [Atos 21:17-19]. Pela saudação aqui mencionada, o apóstolo evidentemente pretendia prestar aquela reverência de honra (τιμητικὴν προσκύνησιν, timetiken proskunesin) que mostramos um ao outro, e da qual ele fala quando diz a respeito de Jacó, que ele 'reverenciava (προσεκύνησεν, prosekunesen) o topo de seu cajado' [Hebreus 11:21, Gênesis 47:31]. Com esses exemplos concorda o que Gregório, chamado o Teólogo, diz: 'Honre Belém e reverencie (προσκυνήσον, proskuneson) a manjedoura'.

Agora, quem daqueles que entendem corretamente e sinceramente as Escrituras Divinas, alguma vez supôs que esses exemplos que citamos falam da adoração em espírito (τῆς ἐν πνεύματι λατρείας, tē̃s en pneúmati latreías)? [Certamente ninguém jamais pensou assim] exceto talvez algumas pessoas totalmente desprovidas de sentido e ignorantes de todo o conhecimento das Escrituras e do ensino dos Padres. Certamente Jacó não adorou (ἐλατρείσεν, elatreísen) o topo de seu cajado e certamente Gregório o Teólogo não nos convida a adorar (λατρεύειν, latreúein) a manjedoura. De jeito nenhum.

Novamente, ao oferecer saudações à Cruz vivificante, cantamos juntos: 'Nós reverenciamos (προσκινῶμεν, proskinō̃men) Tua cruz, ó Senhor, e também reverenciamos (προσκινῶμεν) a lança que abriu o lado vivificante de Tua bondade'. Isso é claramente apenas uma saudação, e é assim chamado, e seu caráter é evidenciado por tocarmos as coisas mencionadas com nossos lábios. Concedemos que a palavra προσκύνησις (proskúnēsis) é freqüentemente encontrada nas Divinas Escrituras e nos escritos de nossos eruditos e santos Padres para a adoração em espírito (ἐπὶ της ἐν πνεύματι λατρείας, epì tēs en pneúmati latreías), pois, sendo uma palavra de muitos significados, pode ser usada para expressar esse tipo de reverência que é serviço [de adoração]. Como também existe a veneração da honra, do amor e do medo. É neste sentido que veneramos a vossa gloriosa e nobre majestade [do Imperador]. Assim também há outra veneração que vem apenas do medo, assim Jacó venerou Esaú [Gênesis 33:3]. Depois, há a veneração da gratidão, como Abraão reverenciava os filhos de Hete [Gênesis 23:7, 'Abraão levantou-se e se inclinou diante (prosekúnēsen) do povo daquela terra'], pelo campo que recebeu deles como local de sepultura para Sara, sua esposa. E, finalmente, aqueles que procuram obter algum dom, veneram aqueles que estão acima deles, como Jacó venerou o Faraó. Portanto, porque este termo tem tantos significados, as Divinas Escrituras nos ensinam: 'ao Senhor teu Deus adorarás (προσκυνήσεις, proskunḗseis), e somente a Ele servirás (λατρεύσεις, latreúseis)' [Lucas 4:8], dizendo simplesmente que a proskúnēsin deve ser dada a Deus, mas não acrescenta a palavra 'somente' [a Deus], pois proskúnēsin, sendo uma palavra de amplo significado, é um termo ambíguo; mas continua dizendo que se deve servir [propriamente adorar] apenas a Ele, pois somente a Deus prestamos latria