Jesus Cristo morreu por todos os homens




1 Timóteo 2:4
Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo (1 Timóteo 2:3-6).
Os defensores de uma expiação universal abordam este verso como uma afirmação de que Deus deseja que toda pessoa, sem distinção, seja salva, e que Cristo foi dado como resgate indiscriminadamente por todos. Os intérpretes calvinistas, por outro lado, tem entendido esse verso como referindo-se a "todos os tipos de homens". A interpretação calvinista apoia-se no verso anterior que diz, "Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade". De acordo com esse verso, segundo a abordagem calvinista, o Apóstolo estaria ensinando que há eleitos dentro todos os tipos de homens. Isso inclui pessoas de diferentes condições sociais e o Apóstolo está referindo-se a cidadãos comuns assim como àqueles em autoridade.

Embora essa interpretação seja compreensível, ela parece necessitar que as orações sejam feitas apenas pelos eleitos. Aquele "todos" pelos quais devemos orar está ligado a "todos os homens" para os quais Deus deseja a salvação. Assim, se "todos os homens" fossem apenas os eleitos dentre diferentes categorias de homens, aquele "todos" pelos quais devemos orar também incluiria apenas os eleitos dentre todas as categorias. O sentido correto da passagem parece ser o seguinte: porque Cristo morreu por todos os homens sem exceção, incluindo aqueles em autoridade, devemos orar por todos os homens, incluindo aqueles em autoridade.

Há evidência que corrobora essa visão quando examinamos o resto da epístola a Timóteo. Veja como é usado o termo "todos" ao longo da epístola. Há uma passagem paralela a 2:4 que devemos considerar:
Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação. Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis (1 Timóteo 4:9-10).
Novamente o Apóstolo une o conceito de salvação com o conceito de "todos os homens". Claramente em 4:10, "todos os homens" é um grupo distinto dos crentes. Ele especificamente diferencia entre "todos os homens" e "aqueles que creem". Os crentes são meramente um subgrupo dentro do grupo "todos os homens". Por vezes isso perturbou os intérpretes pelo tom universalista. Esse verso significa que toda pessoa será salva? A explicação do que significa chamar Cristo de "Salvador de todos os homens" em está em 2:4-6, onde fica claro que Cristo é Salvador de "todos os homens" porque:

1. Ele deseja que todos sejam salvos;

2. Ele deu a si mesmo como redenção por todos.

Para sermos coerentes na interpretação do texto, não podemos admitir que "todos os homens" em 1 Timóteo 2:4-6 significa "eleitos dentre todas categorias de homens".

2 Pedro 2:1
E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou (ton agorasanta autous Despoten) trazendo sobre si mesmos repentina perdição (2 Pedro 2:1)
A impressão inicial desse verso é que os falsos mestres, de acordo com o Apóstolo Pedro, negam o Senhor Jesus que os resgatou na cruz. Esse parece ser o sentido óbvio. Contudo, dois argumentos tem sido usados pelos calvinistas contra essa interpretação:

1. A palavra traduzida por "resgatou" ou "comprou" não seria usada em referência a Jesus Cristo. Seria um termo referindo-se ao Pai. Embora seja verdade que o termo refere-se comumente ao Pai na Septuaginta, é falso dizer que nunca refere-se a Jesus. Há outra referência na epístola de Judas, em uma passagem que pode muito bem ser lida paralelamente: 
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador (Despoten) e Senhor nosso, Jesus Cristo (Judas 4).
A palavra traduzida aqui como "dominador" é a mesma usada por Pedro acima, quando Cristo é chamado de "Senhor que os resgatou".

É digno de nota que Pedro e Judas possuem linguagem idêntica em muitos pontos. Virtualmente todos os estudiosos do Novo Testamento concordam que Judas baseou-se consideravelmente no texto de 2 Pedro, ou vice-versa. Nas duas passagens paralelas, Pedro refere-se àqueles falsos mestres que "negam o Senhor que os resgatou", enquanto Judas fala daqueles que "negam nosso único dominador e Senhor, Jesus Cristo". Conclui-se que a afirmação de ambos refere-se a Jesus Cristo.

2. É alegado também que o termo "comprar" ou "resgatar" refere-se à libertação dos israelitas do Egito. Isso porque Deuteronômio 32:6 fala de Deus como aquele que "resgatou" os israelitas. Entretanto, o termo usado ali pela Septuaginta não é o mesmo usado por Pedro. Não há um paralelo direto aqui. Observe outros exemplos em que o mesmo termo é usado no Novo Testamento:

1 Cor. 6:20 - fostes comprados (egorasthete) por bom preço
1 Cor. 7:23 - fostes comprados (egorasthete) por um preço
Apoc. 5:9 - com teu sangue compraste (egorasas) para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação

Esses versos referem-se à redenção, não à libertação do Êxodo. A conclusão clara é que Pedro estava referindo-se à expiação efetuada por Cristo e, assim, demonstrando a maior gravidade da heresia daqueles mestres. Jesus Cristo também morreu por eles.

1 João 2:2
Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1 João 2:2).
Os defensores da expiação universal interpretam "todo o mundo" nesse texto como uma referência à humanidade indiscriminadamente, enquanto os calvinistas interpretam algo como "todos os tipos de homens eleitos" ou "homens eleitos de todos os povos".

O intérprete calvinista frequentemente alega que a palavra "mundo" tem múltiplos sentidos no grego. Isso é perceptível para qualquer leitor do Novo Testamento. O próprio Apóstolo João usa o termo com sentidos variados. Apontando para o conflito entre Paulo e os judaizantes, os intérpretes reformados entendem que o "mundo" nesse contexto refere-se ao gentios. Desse modo, "nós" aponta para os judeus, enquanto o "mundo" refere-se aos gentios.

Entretanto, não há razão para crermos que 1 João tenha sido escrita para judeus etnocêntricos. Essa epístola está entre as últimas a serem escritas no Novo Testamento. Ao final do século primeiro, o problema das relações entre judeus e gentios já tinha sido largamente superado. O concílio de Jerusalém havia sido realizado aproximadamente 40 anos antes dessa epístola. Por isso, essa é uma interpretação pouco provável. A outra opção é que esse verso ensino que Jesus morreu por todos os homens, sem exceção. Outros sentidos da palavra "mundo" não se encaixam aqui.

Quem representa o "nós" aqui? Essa é uma epístola universal, não dirigida especialmente a uma audiência judaica ou mesmo a uma igreja específica; portanto, o "nós" refere-se aos cristãos em geral. O "todo o mundo" deve ser algo distinto dos cristãos em geral. No mesmo capítulo, João usa a palavra "mundo" algumas vezes. "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" (1 João 2:15-17). João usa o termo "mundo" referindo-se à humanidade pecadora e à corrupção da era atual. Assim, o que João parece estar dizendo no início do capítulo é que "Cristo morreu não apenas por nossos pecados (dos crentes), mas também pelos pecados do mundo todo (a humanidade descrente)".

Atos 3:18-19
Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecerArrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham tempos de refrigério, da presença do Senhor (Atos 3:18-19).
Essa passagem é ilustrativa da pregação básica do Novo Testamento: Cristo morreu e ressuscitou; logo, convertam-se e creiam nele para a salvação. É a morte que Cristo - seu sacrifício redentor pela humanidade - que é apresentada como fundamento da possibilidade de retorno para Deus, de ser salvo e perdoado. Se a pregação do Evangelho é oferecida a todos indiscriminadamente ("todos os homens em todo lugar", como é dito em Atos 17:30), igualmente o sacrifício de Jesus foi oferecido por todos.

Tão forte é essa conexão que os incrédulos são culpados precisamente por seu ato de rejeição da oferta e testemunho de Deus em seu Filho:
Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o faz, porque não crê no testemunho que Deus de seu Filho dá. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho (1 João 5:10-11).
Mas que oferta haveria, se o sacrifício de Cristo não tivesse sido oferecido também por eles? Que testemunho estaria sendo rejeitado, se os incrédulos jamais tivessem sido contemplados nessa promessa ("Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho")? Se o sacrifício de Jesus tivesse sido oferecido apenas pelos eleitos, os não-eleitos estariam antes obrigados a rejeitarem a oferta, uma vez que ela nunca teria sido dirigida a eles de qualquer modo.

A conclusão novamente é que Cristo morreu por todos, e podemos estar confiantes dessa verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário